O dia em que compreendi o verdadeiro significado de compartilhar
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O dia em que compreendi o verdadeiro significado de compartilhar


Em uma segunda-feira no final de janeiro, fui para Downtown para comprar algumas coisas que faltavam aqui no apartamento. Estava fazendo algo em torno de trinta graus negativos de sensação térmica, e o ar chegava a queimar o rosto.

Terminado meus afazeres, fui para o ponto de ônibus para voltar para casa. Eis então que surge um morador de rua, pedindo dinheiro. Disse que não comia desde ontem de tarde e estava pedindo alguns trocados para que pudesse almoçar. Ele estava com vários casacos, mas percebi que estava com frio, pois suas mãos estavam tremendo e o medo e a agonia estavam estampados no seus olhos.

Olhei para o relógio, vi que era uma hora da tarde, e que também estava com fome. Percebi que havia um Subway próximo ao ponto de ônibus e então juntei o útil ao agradável, chamei o morador de rua para comer um lanche comigo. Disse que não gostava de dar dinheiro, pois não sabia o que ele poderia fazer.

Na hora que o convidei para comer, seus olhos enxeram de lágrima, e a única palavra que saia da boca dele era "obrigado". Como já havia visto diversas pessoas fazerem isso no Brasil para conseguirem cativar a pessoa que ajudava, não fiquei muito comovido. Então, nos dirigimos para o Subway.

Ao chegar no local, por conta do horário, havia ao menos umas quinze pessoas. Entrei primeiro, acompanhado do sem teto. Rapidamente o gerente veio e pediu para ele se retirar, pois não queria que ele começasse a pedir dinheiro dos clientes, mas antes que ele pudesse terminar de falar, disse que o havia chamado e que iria pagar pela sua comida. O gerente disse que, se ele não importunasse os outros clientes, não haveria problema.

Deixei ele ir na frente e disse para a moça do Subway que iria pagar pelo pedido dele. Foi ai que eu aprendi a minha lição, que me fez me sentir um lixo por não ter acreditado no morador de rua. Primeiro ele pediu o lanche mais barato que havia, de apenas quinze centímetros (o menor tamanho no Subway) e depois, quando foi para pegar o que beber, ele pediu uma água. O pedido dele não deu mais que sete dólares, enquanto somente o meu havia sido mais de onze dólares devido a tudo o que pedi.

Quando sentamos para comer, logicamente dividindo a mesma mesa, perguntei para ele se ele não estava com fome. Ele respondeu que sim, e então perguntei, por que ele não pegou um refrigerante e um lanche de trinta centímetros? A resposta dele foi:
Não quero abusar da sua bondade. Você já está me ajudando demais, me comprando este sanduíche, mas sinceramente, você está fazendo com que eu me sinta uma pessoa novamente, por me chamar para comer junto com você.
Foi a frase que mais me comoveu na vida inteira. Disse pra ele comer o lanche, tentando não derramar as lágrimas do olho, mas então, antes de desembrulhar a comida, ele me perguntou: Posso fazer uma oração antes de comermos? Disse que sim e essas foram as palavras que ele disse:
Obrigado meu Senhor, por esta refeição. Obrigado Senhor por fazer com que eu cruze com este anjo, principalmente neste dia de grande dificuldade. Obrigado por tudo Senhor. Amém.
Neste momento o sem teto não consiguiu conter as lágrimas e começou a chorar. Eu disse que estava tudo bem, mas também estava chorando, já que nunca tinha visto uma demonstração de gratidão tão grande quanto aquela. Terminei de comer e disse a ele que tinha que ir ao banheiro. Pedi um lanche igual ao que ele havia pedido, mas desta vez um de trinta centímetros. Comprei mais duas águas e pedi para a moça colocar em uma sacola. Quando ele estava se levantando para ir embora, perguntei a ele:

 - Você acredita em Deus?
 - Sim.
 - Você acredita em milagre?
 - Sim.
 - Então toma. Um lanche para você comer quando estiver com fome e mais duas garrafas d'água. - Tirei trinta dólares da carteira - E este dinheiro é para você recomeçar a sua vida. Sei que não é muito, mas já é o começo. Deixe Deus com orgulho e tente melhorar sua vida.

Ele me pediu um abraço e me agradeceu pelo menos mais umas dez vezes. Meu ônibus já havia chegado, então corri para não perdê-lo. Corri chorando, de felicidade por ter ajudado alguém, mas também por ódio de mim mesmo, de ter desconfiado de alguém como ele.

Voltei para o centro da cidade várias vezes depois daquele dia, normalmente no mesmo horário e nunca mais encontrei o sem teto. Não sei o que aconteceu com ele. Não sei o nome dele. Nunca mais vi ele. Só sei que eu desejo que ele tenha melhorado de vida, porque ele melhorou a minha. Ele me mostrou o verdadeiro significado da palavra compartilhar. Como uma coisa que para mim é algo banal, pode ser algo tão importante para outra pessoa.

Vejo diversas pessoas que não ajudam ninguém, que julgam assim como eu julgava os outros, ou ainda que simplesmente fazem vista grossa com o pedinte. No Brasil, vejo várias pessoas dizendo que não vão ajudar a ninguém, já que o governo é uma mãe, então que eles peçam para a presidente.

Não tiro a razão deles, porque sei como é difícil ajudar alguém sem saber se esta pessoa irá realmente utilizar o dinheiro da forma correta. Mas ao mesmo tempo, percebi que, a partir do momento que nós ajudamos uma pessoa querendo que ela faça algo que nós queremos, ou que ela retribua o favor, na verdade não estamos fazendo uma bondade. Estamos fazendo negócios.

Portanto, hoje, gostaria que vocês repensassem sobre ajudar alguém, seja com dinheiro, seja com roupa ou comida. Seja para um morador de rua ou uma entidade, mas pense em ajudar... Porque nesta vida, não se conta aquilo que recebemos, mas sim aquilo que compartilhamos.

Uta!



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