Robert Pirsig, escritor americano, um dia disse:
Dentro de um carro, você sempre está envolto em um compartimento, e por conta de estar acostumado a isso você não percebe que a janela do seu carro, nada mais é que uma televisão. Você é um observador passivo, e tudo passa por você de modo entediante dentro de um quadro. Quando você está em cima da motocicleta, o quadro se fora, você agora está em contato com tudo, você é a cena, não apenas um observador, e a presença disso é indescritível.
Acredito que nunca tenha havido um momento em minha memória, onde eu pensei em trocar minha moto por um carro ou algum outro veículo. A minha vontade por dirigir motos sempre esteve presente em minha vida, assim como um homem com fome tem desejo de uma comida, e o cego tem a ânsia de poder um dia enxergar, porém nunca pensei o real motivo pelo qual eu ando de moto, até que em uma conversa de bar com amigos a pergunta foi feita. É lógico que nos primeiros pensamentos foram inundados por aquelas frases clichês como,
porque é liberdade; porque eu gosto; porque me sinto vivo; mas qual o significado que teria para uma pessoa que nunca teve o prazer de ter seu braço direito paralisado pelo esforço de puxar o guidão para acelerar; uma pessoa que não sabe o que é ter o pé esquerdo de todos os sapatos e tênis uma marca exatamente em cima do dedão, local onde a marcha é trocada; um ser humano que não sabe o misto de medo, temor e paixão que é entrar em um corredor estreito de carros parados em um semáforo; como explicar para uma pessoa que nunca teve essas sensações e experiências, frases que nós motoqueiros sentimos todas as vezes que damos partidas em nossas motos e nos tornamos apenas um ser, um
ciborg, onde homem e máquina se fundem e se entendem? Para tentar encontrar uma frase que possa ser explicada para este tipo de pessoa, eu tentei fazer uma análise do meu passado para encontrar o real motivo.
Ao se fazer uma retrospectiva, percebi que o amor pelas duas rodas, ainda totalmente incompreendido, começou antes mesmo de ter o poder de controlar uma máquina dessas. Com dez anos fui a um encontro de motoqueiros com o meu pai. Meus olhos fitavam as motos, na época, grande parte delas eram do tipo
custom e seus donos eram homens com cara de mal, que usavam aqueles coletes de couro para se distinguirem de seus clubes de motos e mostrarem quem era quem, apesar de grande parte deles haverem em seus rostos a mesma configuração, barba grande, cabelos cortados, ambos grisalhos e olhos que pareciam de almas que tinham visto pela primeira vez a imensidão do paraíso. Esta imagem perdurou na minha cabeça até os meus dezoito anos. Esperei o meu décimo oitavo aniversário como uma criança pequena espera o presente de Natal, e em menos de uma semana após ter completado dezoito anos já tinha entrado com o processo para a retirada da carta de moto e de carro. Naquele tempo, meus pais possuíam uma potente CG 125 que ainda está em nossas mãos. A necessidade de dirigir era maior que o gosto, não vou mentir, no começo da minha vida de motorista. Em dias de frio e chuva, trocava as duas rodas pela gaiola de metal dos carros, e só subia na cela da moto pela comodidade e praticidade que era dirigir uma em meio aos carros no complicado transito do centro da cidade. Depois dos vinte anos, já andava de moto mesmo quando havia chuva ou frio, momentos onde o carro já era confortável, agora se tornava um peso mesmo que chegasse em meu destino mais quente e menos encharcado da chuva. Naqueles momentos eu percebia que por mais complicado o trajeto ficava e às vezes, até mesmo, penoso, mais eu gostava e mais me sentia feliz em fazê-lo. Não era ruim para mim ter que vestir a capa de chuva, ou passar um frio que me deixaria com dor de garganta os próximos três dias. Quando troquei a moto por uma Fazer 250, foi quando eu fiquei viciado na injeção de adrenalina, a velocidade.
Antes de ir para o Canadá, a velocidade se tornara uma paixão, coisa que não conseguia encontrar no carro, mas somente na moto. A sensação de estar nos corredores, passar a cinquenta, às vezes sessenta quilômetros por hora em meio aos carros no congestionamento, piscando a luz alta e buzinando, tendo aquele medo de se algo de errado ocorre-se, sentindo o risco em minha volta, a cada segundo, a cada acelerada, a cada desvio seco que fazia com as mãos no guidão. Aquela tensão que criava nós nos músculos do ombros que ficavam por lá semanas, era algo que me fazia sentir alegre, contente, e indiferente do que ocorrera no meu dia, naquele exato momento não havia passado, nem presente, somente o momento, o agora, onde tudo era importante e o resto de nada valia. Neste época o meu sonho ainda era ter uma moto
custom, as linhas dos contornos das motos da
Harley Davidson pareciam os contornos dos corpos das mais belas mulheres do mundo. A mecânica por trás daqueles motores e pistões cromados pareciam o pulsar de um coração à mostra, com o tórax aberto onde um cirurgião poderia colocar as mãos à obra. A vontade de ter uma moto dessas, com dois pistões subindo e descendo entre as minhas pernas ainda era absurdamente grande, não tinha o mesmo tesão pelas motos carenadas ou até mesmo as
naked, imagina então uma
trail ou de trilha. Neste momento era como um homem que gostasse apenas das loiras de olhos azuis, e as demais mulheres eram apenas uma infeliz alteração genética dessas beldades.
Ao voltar do intercâmbio, com uma abstinência de pouco mais de dezoito meses sem colocar a mão em um guidão e com a cabeça mudada em muitos aspectos já comentados no blog, e o gosto pelas motos também foi alterado. Já não se fazia necessário uma moto
custom, mas qualquer estilo tinha seus benefícios e pontos positivos. As
customs tinham um ar de soberania e poder, as carenadas tinham seu ar de velocidade, as
nakeds o jeito híbrido de velocidade e poder das anteriores, as
trails de serem inalcançáveis e as de trilha de serem donas das estradas e do mundo. Cada uma com suas belezas, assim como as mulheres com cintura fina, as loiras e seus cabelos que chamam atenção, as mulatas com sua cor do pecado, as de bunda grande que sobressaltam os olhos, ou as de peitos fartos que não conseguimos parar de olhar, até mesmo as gordinhas e magrinhas com seu ar de exigência de respeito, todas elas lindas e maravilhosas, todas com o suas maravilhas. Após voltar a andar neste período de pouco mais de um mês, de ver todos ficando para trás, e ter a oportunidade de pegar uma moto de seiscentas cilindradas e colocar mais de duzentos e quarenta quilômetros por hora em uma estrada, o fogo da paixão pelas duas rodas voltou a arder e então após essa volta ao passado, eu consegui descrever o motivo pelo qual eu ando de moto:
Eu ando de moto porque em cima dela não preciso pensar em mais nada a não ser no momento. É como se o passado e o futuro não existissem, é como se nada fosse importante a além do momento que estou dirigindo-a entre o ponto de partida até o meu destino. Mas ao contrário do carro onde ele é como um cavalo, que precisa ser domado, no caso da moto, não há outro ser ou coisa... a moto se torna você. Os seus sentidos são passados para a moto, como se naquele momento suas veias corressem gasolina e óleo, os seus músculos fossem movidos pelo seu coração de pistão que explode a cada contração, e como se seus olhos brilhassem como os faróis. Quando eu ando de moto é como se eu escrevesse um livro que a cada página escrita o fogo a queimasse de imediato, como se cada papel que eu terminasse de escrever fosse comido pelo tempo, e sumisse aos meus olhos de escritor, mas que fosse impossível parar de escrever. Eu ando de moto, porque é o momento em que não existe amores, traidores, amigos, inimigos, pessoas, ou qualquer outra coisa que estivesse no seu caminho. Eu ando de moto, porque cada acelerada, cada nova paisagem vista é como se fosse um banho após um dia duro de trabalho, que rejuvenesce a cada gosta que cai no meu rosto. Eu ando de moto, porque não há como descrever o sentimento de felicidade e alegria que você sente ao mesmo tempo que o medo da morte se faz presente. Eu ando de moto, porque sou e sempre serei um motoqueiro.
Uta!
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